can you carry my drink?, i have everything else

11.8.09

carta aberta (rascunho)

ao cuidado dos senhores da Música no Coração
(que da primeira podem até saber alguma coisa, mas do segundo têm muito pouco)

É com grande tristeza que constato a necessidade destas linhas. Atrevo-me a tomar-vos alguns minutos, mais por delicadeza para com o mundo e por amor à verdade do que, confesso, por alguma noção de dever ou de fidelidade que sinta para convosco. Mesmo assim, um mundo em que não pudéssemos dizer a verdade, mesmo quando para isso usamos meios tão prosaicos como um post num blogue insignificante, e uma prosa tão desornamentada como esta, não seria um mundo onde eu quisesse viver.
Caros senhores, indo directa ao assunto, escrevo-vos para relembrar a diferença entre 'e' e 'ou'. Num país em que toda a gente será, mais tarde ou mais cedo, "mestre", e em que ninguém parece preocupar-se muito com isto, assusta-me - mais, entristece-me - deparar-me com o facto (este sim, bruto) de que esta distinção, por ventura uma das mais elementares da lógica, i.e. do modo como pensamos, é completamente ignorada, ou pior desprezada pelos senhores.
E se é, para mim, quase perfeitamente indiferente que decidam polvilhar o "festival do sudoeste" de espanhóis, há coisas que não posso admitir.
'E' é o operador de uma conjunção: serve para dizer que duas coisas se verificam simultaneamente. Para que, por exemplo, a expressão " 'national' e 'marcelo camelo' " seja verdade, é preciso que aconteça a coisa a que se está a chamar 'national' e a coisa a que se está a chamar 'marcelo camelo'. Já em " 'national' ou 'marcelo camelo' " , é apenas necessário que ocorra um deles - a proposição só será falsa se não acontecerem os dois.
Ora bem, dizer a alguém que esteja a pensar ir ao vosso festival que vai poder ver National, ('e') o Marcelo Camelo, ('e') os Buraka Som Sistema, ('e') a Ladyhawke é uma grande mentira. (e dizer que constam todos do cartaz é uma verdade, mas uma verdade que serve para pouco mais do que para dizer 'já viste como está o cartaz do sudoeste este ano?') Era preciso dizer que se vai poder ver National ou Marcelo Camelo, e Buraka Som Sistema ou Ladyhawke - e do mesmo modo nos outros dias. Isso, ou ter os horários dos concertos disponíveis a tempo de se poder ponderar. Freud (que imagino que já tenham ouvido falar), dizia muitos disparates, mas dizia uma coisa muito certa: começamos por ceder nas palavras, e acabamos a ceder no resto. E eu, meus caros senhores, não posso ceder.
Passar por cima desta distinção, mais do que mentir, é mentir sem coração. No vosso caso, siginifica que alguém (e.g. eu), já de bilhetes na mão, é confrontada com a terrível obrigação de escolher. Talvez os vossos clientes mais existencialistas achem alguma graça a isto, mas eu, confesso, fiquei apenas pasmada: de repente um dia com um cartaz que parecia, vá, engraçado, transforma-se num puro exercício de crueladade, ou, pior, de moralismo.
E isto, mais uma vez, meus senhores, eu não posso admitir.
Agradeço a vossa atenção, e peço-vos que não tornem a fazer de mim parva,
Cordialmente,

5 comments:

a said...

a qual foste, já agora?

(está-se meio meio caminho de realizar um jantar - ainda deve vir longe /vai em projecto - de bloguers .. és do porto ou lx? se não for entrar por terrenos privados adentro)

joana said...

national+buraka,claro. não pude não ir aos national

a said...

:)

Menina Limão said...

Esse é apenas um dos motivos (são tantos) que me afastam do Sujoeste com alguma náusea. Fui duas vezes. Não sei explicar porque fui uma segunda.

Miguel Vaz said...

'Faith No More' ou 'Giro FlorCaveira'?

It would not only be more human, it would be more humble of us to be content to be complex
g.k.chesterton