can you carry my drink?, i have everything else

25.9.06

de fora

ele pediu-lhe que cuidasse do seu futuro.todo. ela fixou apenas a palavra "cuidasse", nunca a tinha ouvido da voz dele (e hoje já nem sabia bem se tinha sido essa). ele disse outras palavras que ela decorou: pequeno e medo. mas não pela voz, ou não só pela voz (a voz), mas porque significavam. porque eram palavras quase-sagradas e ela sabia como era difícil pronunciá-las (só ela notou a osciliação na voz dele ao dizê-las). e porque ele era precisamente o lugar onde para ela sentir-se pequena não fazia medo, ou fazia todo o medo, dependia da posição relativa em que se encontravam.
ele dizia "pequeno" porque não se sabia maior.
ela sabia como não se pode perder um amor infeliz (mesmo que se queira). e tinha medo disso.
eles tinham de falar e não sabiam, nem ele nem ela. por dentro não se viam e só de vez em quando conseguiam suportar olhar um para o outro.
o mais certo é: eles adivinhavam-se (nenhum deles sabia bem quando acertava, e isso foi o que os juntou e o que os pode separar.)


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It would not only be more human, it would be more humble of us to be content to be complex
g.k.chesterton