can you carry my drink?, i have everything else

22.6.10

diário gráfico

chiado, muito calor, esperar com ainda mais calor, a casa era muito mais pequena do que ela pensava. o velho entreabriu o coração, como quem deixa cair migalhas de alguma coisa grande que come com as mãos gordas e desajeitadas. como quem não quer a coisa. talvez porque sentisse que era capaz de a encaixar com precisão no papel que segurava. talvez porque se tivesse deixado de importar assim tanto com as migalhas da sua vida. falou de humildade e atenção. ela pensou em simone weil. falou de currículos impressionantes e de trabalhos de sapa. ela pensou em simone weil outra vez. o velho era desajeitado com o lápis e com a respiração. e estava doente. ela ouvia as histórias dele. com humildade, atentamente. e ele gastava o tempo que não tinha, com uma espécie de ternura, como quem não consegue disfarçar o velho amor pelo seu ofício, como uma espécie de avô. chiado, muito calor, as pessoas entram e saem da vida umas das outras a uma velocidade estonteante.

1 comment:

João Maria Corrêa Monteiro said...

na pausa entre mergulhos, um bálsamo num mar de números que não me tira a sede.

It would not only be more human, it would be more humble of us to be content to be complex
g.k.chesterton