Confissões IV
Porque trazia a minha alma despedaçada e ensanguentada, incapaz de ser levantada por mim, e não encontrava onde colocá-la. Não encontrava repouso nos bosques amenos, nem nos jogos e no canto, nem nos lugares perfumados, nem nos aparatosos banquetes, nem no prazer da alcova e do leito, nem finalmente nos livros e nos versos. Todas as coisas eram horríveis, e a própria luz, e tudo aquilo que não era o que ele era, era insuportável e odioso, tirante o gemido e as lágrimas, pois só aí encontrava algum repouso. Mas quando daí era arrancada a minha alma, ela pesava sobre mim como um enorme fardo de infelicidade. A ti, Senhor, devia ser elevada e curada, eu sabia, mas não queria nem podia, tanto mais porque tu não eras para mim algo sólido e firme quando pensava em ti. Na verdade não eras tu, mas um vão fantasma, e o meu erro era o meu Deus. Se tentava colocá-la aí para que repousasse, ela escorregava para o vazio e de novo se precipitava sobre mim, e eu ficara a ser para mim mesmo um local infeliz onde não podia estar nem de onde me podia ir embora. Para onde fugiria de si mesmo o meu coração? Para onde fugiria eu de mim mesmo? Para onde não iria eu mesmo atrás de mim? E todavia fugi da pátria. Menos o procuravam meus olhos onde não costumavam vê-lo. E vim de Tagaste para Cartago
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