a vida como ela é*

precisamente na mesmíssima altura em que só a delícia da ironia de ir ver um filme muito life's all good if you love each other, happy-ending, etc no dia em que mais agudamente me apercebi da inevitabilidade (hoje, só hoje) de um futuro miserável - miserável - me salvou de me afogar no espelho depressivo que se pôs à minha frente, precisamente nesta altura digo, o l. pede a i. em casamento com anel que comprou especialmente às amigas do cunhado que desenham joias e ela aceita claro, e o a. e a f. tem o seu primeiro filho (filha?). isto pelo menos. sim, as estatísticas gritam mas não me convencem.sim há sempre não sei quantas pessoas a darem o primeiro beijo, e não sei quantas a cantar à janela de alguém. sim, mas esses não existem. estes...estes - estes fazem todos parte da minha vida. e o mesmo tempo que para mim é vidro de trincar, é para eles céu na boca (não da, está claro). mistérios do senhor, eu digo. há alegria neste mundo. pena que não tenha parado muito por aqui ultimamente. ou por outro lado, como não deve haver muita, acho bem que se distribua. é isso - alguém tinha de estar miserável hoje para poder haver tanta felicidade noutro lado. não chegavam as vitimas do costume, os esfomeados, os pobres, os em guerra, os abusados, os doentes e as famílias dos doentes. não, hoje o cruel destino tinha de sugar tmabém de mim. seja. destino: dou-te de bandeja. a minha alegria de hoje. e a de amanhã, se quiseres. leva. o meu coração ri-se por dentro das cretinices que escrevo nesta auto-comiseração fingida. o meu coração sabe bem estar triste. não dura muito - nunca dura. humana em tudo, até ao fim.



*respeitosamente e sem nenhuma referência à estimada marca de telefones - era? - que de facto, e pelo que se viu, fazia pouca ideia de como a vida é. ou fazia tanta que sabia muito bem que isso não vendia. telefones, pelo menos.