a tragédia da casa de sintra
depois de um súbito e surpreendente apagão geral na velha casa, e enquanto o chefe da família se dirige devagar, medindo cada passo com os pés lentos, as madeiras rangendo sussuradamente, ouve-se um suspiro estranhamente comprido (em terceira menor, para os entendidos).
as luzes acesas, as várias pessoas sorriem com cortesia da situação, guardam-se os isqueiros e todos se sentam, e elas cruzam os olhos com força. só uma e outra sabem - foi uma coisa entre elas. desfazem a cena, uma sorri, outra atira um foguete.
de tanta empatia, roubaram-se as almas, foi o que aconteceu. e misturara-se aquilo que podia ter sido uma com a outra, e aquilo que podia ter sido outra com uma. foi tudo uma confusão, a que elas acharam graça, mas que se tornou perigosa para outros. era, por exemplo, extremamente complicado dizer-se por qual das duas se estava apaixonado.
elas nunca falaram disto, não ficaram especialmente amigas.
mas complicaram-se muitas vidas depois deste apagão.
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