os prometidos
havia um estranho acordo entre eles. um acordo tão entranhado em algum lado, que nem sabiam que tinham sido eles a selá-lo, há milénios atrás - talvez por isso, não pudessem dizer que sabiam dele, nem o pudessem assumir, ou tomá-lo nas mãos e quebrá-lo: era-lhes anónimo, e por isso, inquebrável.
houve um dia um olhar que demorou mais tempo que o estipulado nesse acordo, e tudo deixou de ser transparente. mas o acordo, esse, permanecia violentamente em vigor até que o destruíssem. apesar do tempo que demorou esse olhar, e desse tempo ter ficado tatuado neles, numa espécie de tinta invisível, inominável.
não conversavam muito a sério cara a cara, mantinham um perímetro de segurança à volta um do outro, não se encostavam, faziam tudo para não se descobrirem: isso, faziam tudo para não se descobrirem - esse era o seu acordo. violá-lo era virar a vida do avesso, e agora isso não podia ser. por isso é que ela não conseguia bem ser ela ao pé dele, e ficava como que desinteressante. e também por isso é que ele nunca conseguia levar avante as tantas propostas de programas mirambolantes que lhe fazia quando não se viam. acima de tudo, não se apaixonariam - não por enquanto.
por enquanto só funcionavam à distância, e o olhar, o demorar desse olhar era a arte que desenvolviam para se mostrarem um ao outro, para se confirmarem. tudo por causa da distância. era, portanto, um treino.
os outros não sabiam deste acordo e insistiam com eles como não é delicado fazer. o que os punha ainda mais longe. por tempo incerto. um par de anos.
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os outros não percebiam
eles não sabiam
e a vida de todos seguia tragicamente alegre
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